domingo, 14 de outubro de 2007

A viagem

Partiu
o carro
os desejos impossíveis
a vida de dois numa cidade deserta
as contradições
partiu tudo junto, embolado
lá fui eu!

E voltei.
Com o carro ainda mais pesado, voltei.
Na mala trazia novas saudades, novos rostos, diferentes pontos de vista e um vidro cheinho do meu perfume predileto. Trouxe de volta velhos sentimentos, contudo ainda mais concretados. Sonhos de papel se tornaram de plástico (e fiquei feliz). Nesta minha quase expedição conheci a fisionomia da esperança. A esperança de dar certo, de ser pra sempre, eterno enquanto dure o que for. E a trago como uma lembrança viva, e assim pretendo a manter.
Lá onde estive, roubei felicidades, as dividi com quem passava por mim, sem me apegar nelas. Entretanto, uma hora em que me distraí, guardei um punhado no bolso. O teu punhado. É que, mesmo naquelas ruas diferentes, eu te buscava pelas esquinas, com o canto do meu olhar. Mas em nenhuma delas te encontrei. Então, a tua parte, junto com a parte que eu te daria de todas as coisas que vivi, guardei em algum lugar, pra quem sabe um dia te dar.
Só que não chega a ser uma vontade louca, como em outros tempos. Se não puder as dividir contigo, estarei mesmo assim feliz. É que, naquelas mesmas esquinas, deixei cair o porquê te procurava, e agora ando com coisas pra te dar sem saber se realmente é isto que eu quero. Acho que me acostumei a guardar punhados de mim pra um dia dividir contigo e agora já não sei mais não agir desta maneira. Puro costume. Confusa? Nem tanto. Já vi piores e já estive pior.
No mais, fui vazia e voltei cheia. E lembrei quando chegava que adoro a entrada de Porto Alegre, tanto que quase choro. É que o meu Porto é Alegre até na sua denominação. E, no meu Porto, estão atracados os principais motivos de voltar. Por isto, quando chego nele, dá uma vontade louca de (re)começar tudo de novo e escrever ainda mais bonito os rascunhos que vinha, sem muita explicação, apenas rabiscando.