quinta-feira, 22 de maio de 2008

Idas e vindas

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> Existem sentimentos e sensações que não viajam com a gente. São coisas que deixamos ali, no lugar onde tiramos as roupas do guarda-roupa, com as portas bem fechadas pra não ter o risco de enganchar em alguma mala e acabar indo junto sem querer. Tem angústia que não solta do nosso quarto, tem tristeza que fica grudada no edredon e têm medos que abandonamos no caminho do aeroporto. Pois é. Existem sentimentos e sensações que se deixa em casa, por mais que aparentemente nos possam nos fazer falta onde quer que estejamos. Se deixam os problemas para serem resolvidos amanhã, na próxima semana, na volta, no próximo ano, na próxima encrenca, ou nunca.
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> Existem sentimentos e sensações que precisamos despachar no momento do check-in, para pegarmos só na volta. Afinal, nada pode ser mais perigoso do que levar ansiedades, preocupações ou quaisquer outros sentimentos negativos na bagagem de mão. Nada mais arriscado que abrir a mala na chegada e dar de cara com um tanto de manias irritantes e inseguranças que não levam a lugar nenhum. E não é que iremos nunca mais encontrar tais sentimentos, mas deveríamos, sem dúvida, perdê-los pelo caminho.
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> Mas existem outros que vão conosco, não importa o quão longe iremos. Tem saudades que são essenciais para que passemos pelo portão de embarque, desejos que causam turbulências nos vôos e expectativas que dificultam e/ou facilitam o nosso ir e vir. Com o tempo aprendi que, assim como existem sentimentos que ficam restritos a um determinado tempo, história ou um certo lugar; existem outros que teimam em se esconder nos nossos bolsos e vão com a gente aonde formos, não importa onde estejamos.
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> E foi procurando pela passagem de ida na bolsa que encontrei algo que achava ter deixado em Porto Alegre, em Livramento, em qualquer outro lugar, menos aqui. Algo que pensei ter abandonado bem antes, num tempo onde aprendi que a precaução é essencial para não acabarmos de vez com nossos corações. Estava ali, no meu bolso, preso nas minhas vestes, a vontade que tenho de perder meu ar e nunca mais conseguir recuperar. Estava ali, preso ao meu corpo, o desejo que tenho de me entregar a alguém e nunca mais me encontrar. Então percebi que faz parte de mim, e não há como me livrar.
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> Estou no Rio de Janeiro. E continua lindo.

Um comentário:

Mia disse...

Que bom! Tem coisas que a gente nunca esquecerá mesmo que tente...
=)

=*