quinta-feira, 19 de maio de 2011

Verborragia resultante da paixão inflamante e cortante e do não corresponder-se à altura

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{Ai, ai
Vai ver é só você
Ai, ai
Vai ver é só você querer}

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Sabe estas tuas tentativas de nos manter sempre perto para que não nos percamos entre os mundos que nos separam, estas tuas idas e vindas que rasgam minha alma, partindo bem ao meio a minha existência e as minhas vontades, as tuas reais intenções que rasgam meus sentimentos tão fortes e reais; e todas estas tuas prentenções de não perder a oportunidade, como se isto que vivemos fosse apenas mais uma chance que tu tens de ter contato com o mundo real, quando precisas desesperadamente viver de sonhos... entendes o que eu te digo?? Essa mania inexplicável que tens de vir, me encantar, me atrapapalhar, me falar de outras, me jogar na lama, pisar sobre mim quando te vais, dizendo o quão tu não queres te envolver enquanto me abraças e me afundas no cárcere de viver acorrentada a ti, minha vontade, meu encanto. Sabe?? Tu entende?? E esse maldito vício que eu tenho de sentir teu cheiro de perfume barato e achar chique, e achar lindo teu jeito torto, tuas manias particulares e estranhas, de me comover com essa tua crisezinha existencial barata de o quê fazer com estes quase trinta anos.. E tu não percebes que me vicias. Vem e me arrebata. Cruelmente.


E tu te vais. Parte pro mundo, com a tua mochila poída, e enche dela de coisas que me escondes e não permites que eu abra. Tu anda em ruas por mim desconhecidas, e te vais com as ganas de quem quer encher o corpo de novas cores, líquidos e formas. Com a sede de ressaca tu anda por lugares que provavelmente nunca andarei. Tu vais.



E sempre voltas. E novamente me encantas. E novamente me propõe. E novamente me conduz. E me fala delas. E me joga na lama. E me pisa. E me destrói. E me faz ver o quão viciada eu sou nos teus pedaços, nos teus pecados, no teu beijo, mesmo quando dele não provo. E me faz entender que a espera por ti nunca será diferente deste ciclo que eu ainda aceito e me deixo viver. E me derrota com as tuas armas e te protege com teus escudos, num jogo onde as regras mudam conforme te convêm. E eu sigo jogando. Sigo sangrando da tua espada, pois não carrego, como tu, armaduras. Sigo asteando a minha, tentando, em algum momento, pelo menos te fazer tremer com os meus golpes. Com as minhas frases de efeito. Tentando, num tiro de misericórdia, te atingir com a minha aparente falta de querer, que lá no fundo, lá onde só nós dois podemos enxergar, sabe-se claramente que se trata de uma camuflagem para a total dependência que criei de ti. E eu sigo jogando. Te querendo. Sigo esperando que, em algum momento, isso não passe de um devaneio unilateral sem sentido, e possamos existir em igual frequência para ambos. Quando, provavelmente, terei uma armadura tão impenetrável quanto a tua, ou então terás te despido de todas as tuas, me deixando penetrar nas tuas entranhas e na tua vida. Ou, pelo menos, te ferir com as minhas frases de efeito, que eu berro, grito aos quatro ventos, e tu finge não ser o destinatário destas. Como se fossem apenas parte do som do ambiente, apesar de ensurdecerem os demais espectadores. E eu sigo berrando. Até que emudeça e ensurdeça com as minhas ilusões.


Eu sei que ficarei surda. Ficarei muda. E para ti sei que serei apenas mais uma muda que berra teu nome.

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